segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Uivo, de Luís Miguel Vendeirinho


UIVO

É desmesurada esta minha fome
De céus, de fogo e torrente,
Músicas que as chuvas cantam
O arvoredo sopra na noite
Os passos beijam a pedra,
É inaudita a chispa do olhar
Quando a manhã vem, de manso
A flor desponta, a fera uiva
Contra este destino sem rota,
É contra naturam o silêncio
Onde mora o mundo, a hora
Onde as almas livres gritam,
É nossa a cor do lírio
A espuma que o rio grita
O galope dos garranos
A vertigem das eternas pedras,
É mais que perfume
Que ocaso ou relâmpago
Que neves deitadas
Que cantos dos pássaros,
É uma luz que brilha calada…

LV 11.12.2017

Reproduzido com autorização do autor

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Nota biográfica

Luís Vendeirinho nasceu em Lisboa, a 20 de Setembro de 1957.

Foi funcionário do Ministério da Educação entre 1972 e 1976, e do Ministério da Justiça desde então até 2003. Desde jovem tentou algumas incursões no domínio poético, publicando tardiamente, em 1981, o primeiro livro de versos. Depois de alguns opúsculos dedicados ao conto e a reflexões várias, o rumo essencial da escrita levou à publicação dos romances Requiem, Cátedra de Mármore e Uma Farpa na Clareira. Tem visto publicados, em algumas colectâneas e em periódicos, tanto alguns contos como crónicas.

A formação académica fê-la – desde o liceu – sempre de par com a actividade na administração pública; formação essa dedicada aos Estudos Portugueses, aos Estudos Europeus e ao Jornalismo. Desde adolescente que o convívio com a realidade social, sobretudo a rural, o tem cativado, e coabitado com o montanhismo (q.b. entenda-se).

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

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