sexta-feira, 29 de março de 2024

A reabertura da Mina de Borrageiros nos anos 80?

 


Sendo uma das concessões mineiras mais antigas na Serra do Gerês, de facto o início da laboração ali teve lugar em 1916, a Mina de Borrageiros sempre foi uma das mais isoladas e com acessos difíceis. Com a sua exploração suspensa desde os anos 50, o princípio dos anos 80 iria trazer a perspectiva da sua reabertura.

Após permanecer abandonada por largos anos, a concessão mineira de Borrageiros é atribuída por tempo ilimitado à PROMINAS a 12 de Junho de 1980, sendo o alvará de concessão n.º 7508 lavrado a 27 de Agosto e publicado no Diário da República de 31 de Outubro.

O sucesso da exploração mineira da Mina do Borrageiro passava pela abertura de um estradão numa extensão de cerca de 1.000 metros entre a concessão e a estrada Paradela – Toco que havia sido rasgada na Serra do Gerês pela Electricidade de Portugal para a construção de várias mini-hídricas de retenção de águas (nomeadamente no Porto da Lage e na Lage dos Infernos) que fazem parte de uma rede de aproveitamento das águas vertentes da serra. Para tal, é enviada ao Parque Nacional da Peneda-Gerês uma autorização para se proceder à abertura do estradão. Certamente sabendo que seria um assunto de resolução difícil, a empresa mineira utiliza um discurso ameno,

Ex.mo Senhor Director.

Dentro do melhor espírito de colaboração que pretendemos exista entre esta Sociedade e o Parque Nacional da Peneda-Gerês, informamos V. Ex.ª que pretendemos executar um estradão a partir da estrada Paradela – Toco de acesso à nossa concessão mineira n.º 949 denominada Borrageiros.

Juntamente com a carta assinada por Adriano Barros, segue um pequeno mapa da área com a implantação do estradão a executar. A 9 de Março o Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês envia para a Circunscrição Mineira do Norte uma carta na qual informa sobre a pretensão da PROMINAS e solicita informações sobre a área concedida, referindo que a mina se encontra em plena reserva natural e que a abertura do estradão poderia criar problemas de ordenamento na área protegida.  A resposta da circunscrição mineira seria datad de 16 de Março, referindo que por lei a concessão da mina obriga à sua lavra o que por sua vez implicaria o estabelecimento de infra-estruturas com essa mesma finalidade. Após analisar os dados enviados pela Circunscrição Mineira do Norte e tirando partido da lei vigente, o Parque Nacional da Peneda-Gerês vai recusar a abertura do estradão pretendido pela PROMINAS, informando a empresa através de uma comunicação datada de 15 de Junho onde refere,

De acordo com os nossos dados a concessão n.º 7508, data de Outubro de 1980. Em face da legislação vigente para o Parque Nacional da Peneda-Gerês, não é possível qualquer concessão dentro da área do Parque Nacional sem uma prévia audição, o que não se verificou.

Em face do exposto para este Parque Nacional a concessão n.º 7508, enferma da falta da adequada instrução e localizando-se em zona de reserva natural, de interesse científico, não poderá ter parecer favorável deste Organismo, motivo porque a construção do referido troço de estrada não é autorizada

Estando a construção do estradão já adjudicada, Adriano Barros solicita uma reunião com Adolfo Macedo. Esta reunião tem lugar a 25 de Agosto e nela é sublinhado o facto de o estradão utilizar “uma zona não vegetada, onde a apenas existe granito e que o estradão tinha apenas cerca de um quilómetro de extensão.” Apesar dos argumentos apresentados, Adolfo Macedo manteve a não autorização para a abertura do estradão e sublinhou o embargo da obra caso esta fosse iniciada. Segundo ainda Adolfo Macedo, a resolução do problema deveria ser submetida a apreciação superior. Todas estas circunstâncias seriam referidas ao Director Geral de Geologia e Minas num ofício da PROMINAS datado de 26 de Agosto.

Esta problemática levaria a uma informação por parte da Circunscrição Mineira do Norte datada de 8 de Setembro,

1 – O alvará de concessão desta mina é bastante detalhado na indicação de trabalhos a efectuar, fixação de datas, investimentos mínimos a efectuar, apresentação de relatórios e de planos de trabalho, etc. Daqui resulta que tivemos conhecimento, com carácter informal, de que estavam surgindo dificuldades com a Direcção do Parque Nacional da Peneda-Gerês e que os trabalhos não podiam ter o ritmo que se tinha exigido. O representante da concessionária esperava ser capaz de solucionar esse problema, o que, conforme se verifica (…), não conseguiu.

2 – Verificou-se estar deslocada a demarcação da mina, publicada no Diário do Governo n.º 141 – IIIª Série de 20 de Junho de 1919, tendo-se já efectuado os trabalhos necessários para a devida correcção. (…)

3 – A área concedida tem a orientação N-S e o limite Sul fica a poucas centenas de metros da estrada Paradela – Toco. 

O estradão projectado ficará em parte dentro da área concedida, havendo um percurso de cerca de 800 m fora da concessão.

4 – O acesso à mina é feito actualmente a pé e dada a natureza pedregosa do terreno não é possível o trânsito de viaturas.

Para os trabalhos de reconhecimento indispensáveis nesta fase – sondagens – torna-se imprescindível um acesso para o transporte do equipamento. Este acesso será tanto mais imprescindível quanto maior for o vulto dos trabalhos que se venham a executar se as sucessivas fases de reconhecimento derem resultados positivos e vierem a conduzir à exploração do jazigo.

5 – Está projectada uma sondagem com 150 m a 200 m de profundidade que com as indicações que der levará, ou não, à execução de mais sondagens ou outros trabalhos.

O problema é então levado ao Secretário de Estado da Produção ao qual é entregue uma informação relativa não só à Mina de Borrageiros mas também relativa às Minas dos Carris. De facto, na altura era considerada a criação de um grande couto mineiro na Serra do Gerês envolvendo estas duas minas e que levaria ao prolongamento do estradão desde Borrageiros até à Chã das Abrótegas onde se faria a ligação com o estradão proveniente do Vale do Alto Homem. Ao Secretário de Estado da Produção era sugerido o estudo de uma solução para a existente incompatibilidade entre o aproveitamento mineiro e a preservação do património natural. No entanto, seria exarado um despacho no qual era indicado que “a posição de se não deixar construir o estradão deve ser mantida.” Esta informação é transmitida à Direcção Geral de Geologia e Minas a 21 de Dezembro. Em consequência deste despacho, que é transmitido a Adriano Barros a 7 de Janeiro de 1982 de forma oficial, este propõe à Circunscrição Mineira do Norte uma reunião com o Director do Parque Nacional da Peneda-Gerês, ele próprio e o chefe daquela circunscrição, no local onde deveria ser iniciada a construção do estradão para assim poder demonstrar a não existência de impedimentos ecológicos à sua abertura. A Circunscrição Mineira do Norte acede ao pedido de reunião a 25 de Janeiro, porém não há registos de que o Parque Nacional da Peneda-Gerês tenha acedido a participar.

Sendo realmente imprescindível para a realização dos trabalhos mineiros, a situação iria perdurar vários meses e traçaria o futuro da exploração. Os trabalhos realizados pela PROMINAS na Mina de Borrageiros limitaram-se, em 1980, à execução de trabalhos de topografia, geologia-mineira e de limpeza de galerias travessas de acesso ao jazigo. Sendo impossível a construção do estradão de acesso à concessão em 1981, os trabalhos acabariam por ser suspensos. Os valores dos minérios volframíticos nos mercados internacionais iriam sofrer uma quebra substancial, inviabilizando desta forma novos investimentos. Esta causa é sublinhada a quando do pedido de suspensão de lavra para o ano de 1987 que é realizado a 30 de Dezembro de 1986. Este pedido de suspensão de lavra seria deferido por despacho de 6 de Julho de 1987. Um novo pedido de suspensão de lavra seria enviado para o Secretário de Estado da Energia a 25 de Março de 1988, sendo deferido a 28 de Setembro e publicado no Diário da República de 23 de Setembro.

Após vários anos de tentativas de exploração, a PROMINAS requer o abandono irrevogável da Mina de Borrageiros a 28 de Abril de 1989 devido ao facto de “…não ser económica a sua exploração nem fundamentadamente o poder vir a ser em prazo razoável.” A partir daqui desencadeia-se um processo que levará à suspensão da concessão mineira (que acontecerá ao mesmo tempo com as concessões das Minas dos Carris). A 9 de Outubro, a Circunscrição Mineira do Norte recebe um ofício por parte do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza que refere não ser aconselhável a actuação dentro do perímetro do Parque Nacional da Peneda-Gerês, de entidades estranhas àquela área protegida. De referir que por lei as empresas mineiras que requerem o abandono das suas concessões, são responsáveis pelos trabalhos de segurança e protecção de todas as instalações, edifícios e trabalhos mineiros. No entanto, com o ofício enviado a 9 de Outubro, o Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza chama a si essa responsabilidade. A resposta a este ofício surge a 19 de Outubro onde é referido que dado o teor do ofício enviado,

(…) julgamos dispensável a n/ ida ao campo, dado irem tomar as medidas necessárias quanto à segurança e que, nestes casos, se resumem à construção dum muro à volta da boca dos poços (para evitar a queda de Pessoas) e à vedação de galerias que desemboquem à superfície (para evitar que alguém entre para dentro de trabalhos antigos).

Apesar desta referência, o Parque Nacional da Peneda-Gerês nunca tomou qualquer medida de prevenção quanto à segurança das instalações mineiras das minas dentro da sua área.

A concessão mineira n.º 949 Borrageiros seria extinta por despacho ministerial de 28 de Maio de 1992 ao abrigo do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 88/90, de 16 de Março, sendo também revogado o alvará que havia sido atribuído à PROMINAS. Este despacho é lavrado a 8 de Setembro sendo publicado no Diário da República do dia 22 de Setembro.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCXXXVI) - Rio Homem

 


Selvagem ao atravessar a Serra do Gerês, o Rio Homem molda a paisagem à sua passagem.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 28 de março de 2024

ICNF realiza queimadas para renovação de pastagens com pastores, Sapadores Florestais e CNAF

 


O Núcleo de Coordenação sub-regional da Gestão de Fogos Rurais, do Cávado e Ave, organizou queimadas extensivas no Parque Nacional da Peneda-Gerês, a 21 (Dia das Florestas) e 22 de Março. 

Uma operação para dar resposta à necessidade de renovação de pastagens no apoio à pastorícia em vezeiras e baldios. 

Participaram equipas de Sapadores Florestais de Terras de Bouro, as equipas do CNAF do PNPG, elementos da UEPS da GNR e a colaboração de vários técnicos de fogo controlado.





Fotografias © ICNF (Todos os direitos reservados)

O Gerês e a loucura do futebol

 


São poucos os locais neste mundo, onde o futebol não seja o desporto-rei. O Gerês não foi excepção e se hoje temos o glorioso Grupo Desportivo do Gerês, em tempos outras agremiações desportivas existiram na localidade termal.

O seguinte texto do livro "Memórias Geresianas", de Agostinho Moura (2011), é a transcrição de um capítulo dedicado às verdadeiras origens do futebol no Gerês.

As verdadeiras origens do futebol geresiano

Fenómeno que, a partir da Inglaterra, despoletou num ápice por todo o mundo, até se tornar no desporto-rei universal, o 'vírus' do futebol chegou ao Gerês nos anos 30 do século passado. De forma embrionária e muito elementar é certo, sem treinos, nem equipamentos, nem campo de jogos, nem tão pouco uma bola de capão ou de borracha - verdadeiros luxos para aquela época... -, mas com a inesquecível bola de trapos pacientemente enrolados a servir de engodo e a dar oportunidade ao despertar de vários 'craques' geresianos que ainda hoje são recordados com saudade nas tertúlias locais.

Ao contrário do que se tem referido e escrito, sem qualquer fundamento, o futebol no Gerês não começou a ser praticado "há mais de cem anos". Uma tremenda asneira ou inverdade já que os maiores clubes de futebol portugueses de Lisboa e do Porto pouco mais têm do que essa idade, em termos de prática futebolística. E quem, com o senso comum, poderá acreditar que a prática do futebol no Gerês se iniciou antes ou até na mesma época em que começou a ser praticado nas maiores cidades portuguesas?

Embora não existam documentos históricos que o comprovem, numa entrevista que, em Junho de 1996, nos concedeu o saudoso Virgílio Ribeiro, neto de uma das primeiras famílias que assentaram arraiais, de forma permanente, nesta vila termal - seu avô paterno, António Joaquim Martins Ribeiro fundou aqui, em 1885, o Hotel Ribeiro - e um dos 'cabouqueiros' dessa modalidade desportiva entre nós, revelou-nos que o futebol no Gerês começou a ser praticado, ainda que de forma rudimentar, nos anos trinta (1933 / 1935) e depois teria um surto de desenvolvimento por ocasião da II Grande Guerra Mundial (1938 - 1945), muito por influência dos inúmeros trabalhadores que, nessa época, vieram explorar o volfrâmio nas minas dos Carris, nessa altura propriedade da Sociedade Mineiras dos Castelos, de capital alemão, com a particularidade de muitos dos jogos de futebol e até de voleibol, nesses tempos, se disputarem nos Carris, na zona das Abrótegas.

Além do Virgílio Ribeiro, foram pioneiros da prática do futebol no Gerês, na referida época, e entre outros, os geresianos César, Cândido e Fernando Santos (os irmãos Batoca), o Serafim do Lino, o António Baltazar e seu irmão Ernesto que, apesar de ir muito jovem (12 anos) trabalhar na restauração em Lisboa, vinha cá dar uma 'perninha' sempre que lhe era possível, o mesmo sucedendo com o Serafim do Lino. Foram eles que formaram a primeira eqipa aqui existente, denominada 'Futebol Clube do Gerez', cujo 'capitão' era o António Baltazar (o último de pé, do lado direito, na foto em baixo). Foram jogar duas vezes a Vieira do Minho e uma à Póvoa de Lanhoso, obtendo duas vitórias (2-0 e 3-1 e uma derrota por 2-4).


FC Gerez - 1935

Como não havia, nesse tempo, campo de jogos, os aficionados pelo futebol jogavam-no em qualquer lado, não só na rua, como na antiga praça ou no lago da Pereira, onde hoje existem as actuais instalações desportivas do Grupo Desportivo do Gerês.

A semente do futebol estava, assim, lançada em terras geresianas e poucos anos depois, na segunda metade da década de 40, embora continuando sem campo próprio, mas já com equipamentos alugados, existiu aqui uma equipa famosa, onde sobressaiu pela técnica apurada, o Quim do Dias, o qual, levado pela mão amiga do António Baltazar, chegou a ir prestar provas no velhinho Campo da Ponte, perante os técnicos do Sporting de Braga que se mostraram interessados nos seus serviços. Só que por influência de sua mãe, dada a imagem de boémios que, nesses tempos, era atribuída aos jogadores de futebol, o Quim do Dias acabou por desperdiçar a oportunidade de singrar nessa carreira, tantas eram as qualidades que lhe eram reconhecidas.

De acordo com um artigo publicado por Armando Pinto Lopes na edição do "Geresão" de 20 de Dezembro de 1998, sob o título "O Gerês de há meio século", na época de 1948 dessa equipa faziam parte também o Pego, o Mário Chavola, o Tone Mineiro, o Arnaldo Mouta, o Manuel Pires (de Caniçada) e os irmãos Armando e Gaspar Pinto Lopes. Disputaram diversos jogos não só no Vilar da Veiga, como em S. João do Campo (onde venceram por 10 a zero...), em Caniçada (onde defrontaram a equipa do Vieira perdendo por 3 a 7) e em Amares, contra a equipa de Sta. Maria de Bouro, ganhando por 2-1.

Além das dificuldades de toda a ordem então existentes, os futebolistas geresianos debatiam-se com a falta de meios de transporte, sendo o mais frequente a bicicleta de pedal que, constituía, por assim dizer, uma espécie de pré-aquecimento para o jogo que em pouco tempo depois se iria disputar... Para esse jogo contra o Sta. Maria de Bouro, porém, realizado num campo junto à antiga serração de Amares, toda a equipa, composta por 15 elementos, entre titulares e suplentes, se fez deslocar num velho "BUICK" descapotável que o Mário Chavola conduzia no transporte do carvão que era produzido na serra e daqui era levado para Braga e o Porto, onde tinha muita procura como combustível para se cozinhar, uma vez que as botijas de gás, ainda não existiam, nessa altura, em Portugal.

A viagem até Bouro, com a estrada em macadame toda esburacada, e com o roncar do potente motor daquele 'machimbombo' a troar pelos ares, entre uma poeirada infernal e a algazarra dos respectivos passageiros, provocaria o susto e o espanto entre os adultos e as crianças das povoações por onde passava. E até as galinhas, que nesses tempos andavam à solta, assustadas, fugiam espaventadas a cacarejar, tão grande era o 'tornado' que se fazia sentir...

Nesse célebre jogo, a equipa do Gerês de 1948 alinhou, e de acordo com a gravura a seguir, da seguinte maneira: de pé - Pego, Parceirinho, Quim do Dias, Manecas, Mário Chavola e Armando Lopes. De joelhos - José Teixeira, Tone Mineiro, Arnaldo Mouta, Gaspar Lopes e Manuel Pires.


Equipa de 1948

De salientar que o Parceirinho e o Manecas era dois vilaverdenses aprendizes na alfaiataria do Bichinho; o José Teixeira, natural de Entre-os-Rios, encontrava-se, nessa altura, a trabalhar para a HICA nas barragens da nossa região e o Manuel Pires, embora natural de Caniçada, era naquele tempo marçano na mercearia que existiu no rés-do-chão da Pensão Geresiana, onde agora funciona um café.

A talhe de foice, recorda-se que, em 18 de Junho de 1994, por ocasião do III aniversário da elevação do Gerês à categoria de vila, a comissão organizadora prestou uma significativa homenagem a dois dos antigos futebolistas geresianos lá presentes, no caso Virgílio Ribeiro e o Joaquim Dias, a quem foram entregues duas artísticas taças de porcelana, respectivamente pelo Miguel Pereira Guimarães e pelo Armando Pinto Lopes, em reconhecimento do contributo por ambos concedido à causa do futebol geresiano, numa altura em que se estava a disputar mais um campeonato do mundo dessa modalidade.

Após o fulgor revelado, durante vários anos, pela citada equipa, que chegou a incluir também, nalguns jogos, o António Capela, no lugar de defesa, em meados da década de 50 outra fornada de jogadores tecnicistas viria a surgir no Gerês, dentre os quais ressaltou a figura fulgurante do João Guedes que, segundo a opinião de testemunhas insuspeitas, constituiu, a par com o Quim do Dias, da geração anterior, a dupla de futebolistas geresianos de maior craveira em todos os tempos.

A falta, porém, de condições mínimas para a prática de futebol no Gerês continuava a registar-se. O largo onde outrora tinha existido o Hotel Internacional, tragicamente devorado por um incêndio em 6 de Janeiro de 1934, e antes de lá ter sido instalado o posto de combustíveis, era o campo de treino habitual enquanto não surgissem as temidas fardas da GNR, cujos soldados não perdoavam tal infracção, passando multas de 30$50 a cada infractor. Para as evitar - era ingrata a vida nesses tempos... - "fugia-se para o Vidoeiro, junto à bifurcação da estrada que dá para a Portela do Homem, para a Pereira ou até para a Volta da Cera, tão grande era o vício pelo 'pontapé na bola' que aqui existia. Por isso, os jogos a valer eram disputados sempre extra-muros, fosse no Vilar da Veiga, em Rio Caldo, em Caniçada ou nas terras dos clubes adversários.

A fotografia seguinte diz respeito, precisamente, a uma dessas deslocações que, pelas razões acima invocadas, os geresianos eram obrigados a efectuar para 'fazerem o gosto ao pé'.


Equipa de 1957

O jogo foi disputado, em 1957, em Vieira do Minho contra a equipa local, nesse dia fortemente endiabrada, ao impor uma rotunda goleada à sua congénere geresiana (9-1). Num desafio de má memória para as hostes geresianas, a nossa equipa, com calções brancos e camisolas pretas, arranjadas à última hora, alinhou da seguinte forma: Ricardo (de Vila Verde), Carlos Guedes, João Guedes, Berto da Silvana e Taleta; Pego, João Vieira e João do Humberto; Geninho do Aarão, Ismael e João Mouta. Não alinhou neste desafio, por incapacidade física, o Salvador do Bichinho, titular habitual, e serviu de treinador (o último de pé, do lado direito da foto) o Alfredo Guedes.

A geração seguinte, nos anos 60/70, continuou a sofrer da falta e condições já apontadas. o que não impediu, apesar de tudo, que alguns valores se revelassem, tais como o Luís Ribeiro Peixoto, o Salustiano Vieira, o Sidónio Silva, o Zé Gato, o Armando Cruzeiro e o Quim do Veríssimo. Mais tarde, o Luís do Humberto foi o valor mais destacado entre os futebolistas geresianos da sua geração, chegando a defendes as cores azuis e brancas do F.C. Amares como federado.

Com a cedência, pelo Parque Nacvional da Peneda-Gerês, do recinto da Pereira, foi possível, finalmente, a criação, em 1975, do Grupo Desportivo do Gerês, o qual desde então, e salvo uma ou outra interrupção, passou a disputar os campeonatos distritais da Associação de Futebol de Braga, (...).

Fotografias iniciais © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Outras fotografias extraídas do livro "Memórias Geresianas" (Agostinho Moura, Edição do Jornal Geresão - 2011)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (28 de Março a 4 de Abril)

 


Continua o tempo invernal com previsão de neve para os pontos mais altos do Parque Nacional da Peneda-Gerês, estando previstos 24 cm para o Pico da Nevosa.

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCXXXV) - A luz e o negrume

 


O dia, que havia começado com réstias de céu azul, cobria-se de tons que já ameaçavam chuva. Porém, a luz, perscrutando sobre a Roca das Pias, ia tentando vencer o negrume que se instalava já na Roca Negra, Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 27 de março de 2024

O antigo hospital termal da vila do Gerês e o actual posto da GNR

 


Com o passar dos anos, as dinâmicas foram-se sucedendo nas Caldas do Gerês com a maior ou a menor afluência de visitantes e com a maior ou menor importância das águas termais.

Desde a sua ocupação permanente, a actual vila foi-se modificando e ganhando equipamentos e melhoramentos que eram úteis a quem a visitava e a quem lá residia. Um desses melhoramentos foi a criação de um hospital termal que operou durante alguns anos à entrada da estância termal, mas que acabaria por ser encerrado e mais tarde transformado em posto permanente da Guarda Nacional Republicana (GNR).

No seu livro "Memórias Geresianas", Agostinho Moura (2011) dedica um capítulo à história do hospital termal e a sua posterior conversão em posto da GNR, capítulo esse do qual faço aqui a sua transcrição integral...

De Hospital Termal a Posto da GNR

O edifício do antigo hospital termal, agora transformado no Posto Territorial da GNR do Gerês tem uma história curiosa que importa recordar.

Habitual frequentador das Caldas do Gerês, D. João V, Rei de Portugal desde 9 de Dezembro de 1706 a 31 de Julho de 1750, com o cognome de "O Magnânimno", dotou estas termas, em 1735, com uma capela, hospital, poços para banhos termais e residências para o médico, boticário e capelão, durante o período da época termal. Foi, sem dúvida, o primeiro rei que se interessou verdadeiramente pelo desenvolvimento do Gerês e, por isso, é que o seu nome figura na toponímia geresiana - Rua D. João V - precisamente entre o antigo hospital e a rotunda, na zona da Barreira.


Se, na verdade, os outros melhoramentos foram concretizados a curto prazo, o hospital não passou dos alicerces durante cerca de duzentos anos, sendo o local, em meados do século XVIII, aproveitado para nele funcionar um açougue. A sua construção efectiva apenas se viria a concretizar em 1934, fruto das diligências do Dr. Fernando Alves de Sousa, natural de Paços de Ferreira e, a partir de 1926, médico das termas, onde mais tarde, além de director do Hospital Termal Dr. Augusto Santos - em homenagem a um dedicado médico termal com esse nome - seria fundador da Sopa dos Pobres do Gerês, director clínico e Presidente da Junta de Turismo, sensibilizando vários beneméritos aquistas geresianos que financiaram, além do Estado, tal empreendimento, solenemente inaugurado, em 12 de Abril de 1934, pelo Presidente do Conselho de Ministros, Dr. António Oliveira Salazar.

Constituído por dois pavilhões, (...), o hospital termal apenas funcionou no primeiro prédio, junto à EN, para acolher os aquistas carenciados. Dispunha de cave, onde funcionava a cozinha, despensa e refeitório, e do primeiro piso, com duas amplas enfermarias / dormitórios para os sexos masculino e feminino. As despesas desse hospital termal eram suportadas, em parte, pelo Ministério da Assistência, pelos donativos dos benfeitores e pelas receitas resultantes de diversas iniciativas então aqui organizadas para esse fim, tais como gincanas de automóveis no Parque Tude de Sousa, chás dançantes, sorteios e bailes promovidos na esplanada do bar então existente naquele Parque, tendo os respectivos utentes a assistência de um enfermeiro, o último dos quais foi o Enf.º Mota.

A sua actividade foi relativamente curta, pois em finais da década de 60, o hospital termal encerrou, ficando votado ao abandono. Mais tarde, em 30 de Outubro de 1985, passou a funcionar numa das antigas enfermarias, uma Sub-Extensão de Saúde, em dois dias da semana, a qual viria a encerrar, em 27 de Maio de 1991, pelo insuficiente número (594) de utentes inscritos. Albergou, ainda durante alguns anos, a sede do G. D. Gerês, com um bar na cave do edifício. Na outra enfermaria, esteve instalado, até ao início das obras do novo quartel, um jardim de infância.

No pavilhão das traseiras funcionou, durante 59 anos, o Posto da GNR do Gerês, para esse efeito cedido pelos responsáveis do hospital. Criado pelo Decreto-lei n.º 13.854, de 30 de Junho de 1927, esse Posto foi autorizado pelo Ministério do Interior em 6 de Janeiro de 1934, sendo oficialmente inaugurado por Salazar em 12 de Abril desse ano, tal como o hospital termal. De acordo ainda com a Ordem n.º 7 do Comando Geral, de 10/03/1934, o Posto da GNR do Gerês foi criado com o efectivo orgânico de um 2.º cabo e um soldado do Posto de Braga e os restantes soldados um de cada um dos Postos do Bom Jesus, Lordelo e Cabeceiras de Basto, ficando a pertencer à Secção de Braga e tendo como área de intervenção "as freguesias de aquém da Serra do Gerez".

Temporariamente, porém, esse Posto funcionou numa dependência do topo norte do bairro da Assureira, enquanto o pavilhão junto ao hospital passou por algumas obras de adaptação, como o passadiço de acesso, em betão, aí se mantendo até 16 de Julho de 1993 quando, face ao estado de degradação total das instalações, o referido Posto se transferiu, a título precário, para a antiga casa florestal do PNPG, sita na Rua Eng.º Lagrifa Mendes.

De referir que, pelo facto de não existir nenhum documento oficial a comprovar a cedência provisória do pavilhão à GNR por parte do Hospital Termal Dr. Augusto Santos, o Comando Geral dessa força policial, antes de proceder ao arranque das obras de recuperação e requalificação, viu-se na necessidade de accionar os mecanismos legais necessários para, em 13 de Fevereiro de 1998, ser formalizada a cedência, a título precário, do referido pavilhão por parte daquele hospital termal.

Dez anos mais tarde, tais obras, cujos custos ultrapassaram o milhão de euros, viriam a ser solenemente inauguradas em 5 de Agosto de 2008, pelo Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, acto em que estiveram presentes também o Secretário de Estado da Administração Interna, o Comandante Geral da GNR, o Governador Civil de Braga e o Presidente do Minicípio de Terras de Bouro.

O novo Posto Territorial da GNR do Gerês passou a contar, no edifício principal, no piso superior, com o serviço de atendimento ao público, composto pela secretaria, gabinetes do comandante do posto e do adjunto, sala de inquéritos e de apoio à vítima. No piso inferior, existem duas celas, a sala de formação e vestuários (masculino e feminino). No espaço entre o primeiro e o segundo edifício fica a parada, enquanto que no edifício das traseiras, ficaram instalados a lavandaria, refeitório, sala de estar, camarata, suite para o oficial comandante e a residência do comandante do posto.

Texto adaptado de "De Hospital Termal a Porto da GNR" (pág. 226 a 229) extraído do livro "Memórias Geresianas" (Agostinho Moura, Edição do Jornal Geresão - 2011)

Fotografia do Hospital Termal extraída do livro "Memórias Geresianas" (Agostinho Moura, Edição do Jornal Geresão - 2011)

Outras fotografias © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Fotografia do Posto da GNR: Jornal O Amarense

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (27 de Março a 3 de Abril)

 


O dia 28 de Março promete uma cumulação de 45 cm de neve no Pico da Nevosa.

terça-feira, 26 de março de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCXXXIV) - A caminho de Junceda

 


A caminho de Junceda, Serra do Gerês, numa paisagem invernal em plena Primavera.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (26 de Março a 2 de Abril)

 


E as previsões acertaram em cheio com o Parque Nacional da Peneda-Gerês a despertar para paisagens pintadas de branco.

Os cenários vão continuar nos próximos dias, prevendo-se queda de neve para os pontos mais elevados.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Paisagens da Peneda-Gerês (MCCCXXXIII) - O Colado Seco a caminho de Bargiela

 


Percorrendo o Colado Seco a caminho de Bargiela (Varziela), Serra do Gerês.

Fotografia © Rui C. Barbosa (Todos os direitos reservados)

Festival Aldeia de Lobos 2024

 


A edição de 2024 do Festival Aldeia de Lobos, em Fafião, irá decorrer a 12 e 13 de Julho. 

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (25 de Março a 1 de Abril)

 


Inicia-se uma semana de previsão de queda de neve na Serra do Gerês e nos pontos altos do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Especial atenção ao dia 30 de Março.

domingo, 24 de março de 2024

Previsão meteorológica para Nevosa/Carris (24 a 31 de Março)

 


E o mês de Março terminará com paisagens de neve nos primeiros dias da Primavera e com acumulações interessantes a 27 e 28 de Março.

A grunhice e a palermice

 


Hei-de sempre apontar e mostrar o resultado da vinda da grunhice e da consequente palermice ao Parque Nacional da Peneda-Gerês. 

As situações são cíclicas e todos os anos é sempre o mesmo, num sítio ou noutro, mas as situações vão ocorrendo um pouco por todo o lado.

Mais uma vez, as fotografias mostram a abertura da época dos grunhos no Parque Nacional. Gente que vandaliza, gente que rouba, gente que suja gente que não se comporta segundo o local onde está. É esta gente que já vem preparada para gozar dos seus direitos, sem admitir que tem deveres.

Este é também o resultado do desinvestimento nas áreas protegidas nacionais (sim, em todas!). Infelizmente, ainda não se descobriu o segredo de estar em vários locais ao mesmo tempo, porque se perdeu o respeito pelo cumprimento de regras simples ou mesmo das regras de uma área protegida. É o uso da propriedade privada sem autorização, é a utilização dos abrigos dos pastores sem autorização, é a falta de respeito por quem vive no Parque Nacional, é o verdadeiro regabofe dentro do Parque Nacional.

Assim, hei-de sempre apontar e mostrar o resultado da vinda da grunhice e da consequente palermice ao Parque Nacional da Peneda-Gerês. 

Fotografias © Rui Ramoa (Todos os direitos reservados)